meninas ursas e meninos selvagens
Os ursos fazem maldades aos meninos…
e aos sobrinhos do pato Donald também…
o urso da Candelária
Mas é também o dia em que o urso acorda da longa hibernação ditando as mesmas sortes para a natureza.
No entanto, o urso não se limitava a acordar e a dizer o boletim meteorológico. Estava-lhe também confinado o sacrifício exorcizador das forças das trevas. Daí a passagem para as lendas do encontro do diabo verde (selvagem e silvestre) com o cavaleiro e a pele do urso que o vai tornar cativo. O estatuto era tão ambíguo quanto a sorte das irmãs da princesa que dele se apaixona e que Grimm recompilou no conto, ou que, numa versão mais recente, fez do Tom Waits o urso dançarino em versão cinéfila de lenda urbana e a cantar o Singapore.
O viajante que se embrenha na floresta, acaba por se tornar selvagem, cabendo-lhe o destino de guardar a veste do Príncipe do Mundo/Diabo Verde/Pele de Urso. Com o destino cativo das mãos das tesouras, recebe a beleza, riqueza e amor e morte principescos, em troca do pacto com o demo.
Nunca se sabe o que um urso pode anunciar quando acorda- tanto pode vir a alegria da Primavera como o enfado melancólico- e voltar a hibernar para prolongar o Inverno do nosso descontentamento.
Preliminares ursulinos
E, se acrescentasse que é história relacionada com amazonas ou raparigas de Lemnos que se abandalharam na coquetterie, recebendo o castigo de passarem a cheirar mal, espantando a homenzarrada toda?
Ou que tudo isto também pode incluir donas Bernardas e Brancas-Flores, ou Manekas vítimas de assédio incestuoso, a quem cortam as mãos e largam na floresta, até ao dia em que… das regras nasce príncipe e a floresta rejubila.
Ou ainda, que os rapazes ganham pêlo quando se aproximam destas meninas impuras e depois entregam-se a mesnadas de bandos guerreiros, um tanto a dar para o gay?
E, por último, que entre irmandades de ursas e peles de lobo, também podemos ir ter aos escuteiros lobitos, sobrinhos do pato Donald?
Bem, neste caso, eram capazes de pensar que eu me tinha passado e, se calhar, tinham razão…
Aguarde pelos próximos episódios das ursas, acompanhadas da respectiva bibliografia…
Ursas no dia do senhor
As meninas, quando eram levadas pelo urso no dia do senhor- acabavam com pés de pata- o sinal dos leprosos. À rainha Pedauca aconteceu-lhe o mesmo e aquelas termas que mandou edificar em Garonne, não foram por acaso.
Quando as rainhas e as meninas Melusines ou Rosetas/Rosauras se banham, atacadas pelo mal de S. Silvano; o gémeo do Silvestre, o que as possuir tem o destino marcado.
O Silvano- silveste e selvagem disputa-a em Fevereiro. Em Novembro nasce o filho da que ainda tem as rosas- no tempo das regras, na da Lua Nova- é o leproso das almas dos mortos, e o urso volta a hibernar.
A geminalidade destas meninas nas “ursas” nome que se dava às jovens gregas sujeitas aos ritos iniciáticos que acompanhavam o aparecimento das primeiras regras, tinham o efeito duplo de esterilizarem ou fertilizarem por meio das suas fluxos.
Se a menina estiver na periódica na lua cheia, fica de quarentena até à Primavera e os filhos nascerão como os ursos- no solstício de Inverno.
Se forem gerados a meio da Quaresma- no tempo da sereia ou da Serração da Velha, na Lua Velha- têm mais sorte- é o tempo das lavadeiras .
E…
se fossemos a forçar a nota, sem temer cair em blasfémia, quem sabe se as rosas milagreiras da Caritas de Isabel da Hungria ou da sua descendente- a nossa Rainha Santa Isabel, não eram outra variante dos efeitos da flor da ursa…
………………..
Consultar: El camino de la oca
Gianfranco Russo, Il simbolo della Rosa nel Medioevo, in “Orfeo”, Novembro, 2002.
Claude GAIGNEBET, J. Dominique LAJOUX, Art profane et religon populaire au Moyen Âge, PUF, Paris, 1985
Mannerbund dos sobrinhos do pato Donald
Entre os gregos chamavam-se ursas às meninas na altura do aparecimento das primeiras regras. Vemo-las como a a pequena e grande ursa das constelações, a musa Calisto metamorfoseada por vingança dos ciúmes de Hera.
As virgens consagradas a Diana também se transformavam em ursas selvagens e tinham equivalente nas lobas, as prostitutas das festas das lupercalias.
A bestialização, como degeneração do carácter manifestava-se nas metamorfoses dos heróis, associando os ursos aos lobos.
A licantropia de Lycaon, tirano da Arcádia, castigado por Zeus e transformado em lobo, por ter o mau costume de comer os convidados, foi acompanhada pela descendência de filhas como ursas.
Em bandos de ursas guerreiras viviam as amazonas ou lemnianas, cujas artes de trabalho dos metais ensinaram a Hefaísto/Vulcano, quando aí foi parar, depois da expulsão do Olimpo.
As Lemnianas são as ursas impuras, sujeitas ao êxtase de mal sagrado, punidas por Afrodite a cheirarem mal e abandonadas pelos homens, revoltaram-se e degolaram-nos a todos numa só noite. Condenadas à esterilidade, são salvas pelo encontro dos viajantes – os Argonautas que com elas festejaram grande bacanal.
No caso das irmandades de jovens ursos, as componentes homo-eróticas faziam parte da dos rituais de iniciação bélica. Atravessam uma vastíssima tradição guerreira que tanto passa pelos heróis das sagas nórdicas, como cavaleiros Teutónicos; da Távola Redonda ou Samurais e ainda podem chegar à juventude militarizada nazi.
O animal dos ritos guerreiros ou patrono totémico, tanto podia ser o urso, como o varrasco ou o lobo.
Por cá ainda temos a Porca de Murça, que é bem macho e, muito provavelmente, mais um urso a juntar aos guerreiros galaicos ou aos Vetões que faziam parte da história .
Um relato datado de 1580* conta a recepção destes grupos de ursos guerreiros de Dauphiné fizeram ao monarca Henrique II, numa entrada régia em Saint-Jean-de-Maurienne, no caminho para Turin.
Uma centena de homens vestidos com peles de ursos, armados de espadas, patrulharam o monarca pela cidade, até o conduzirem à igreja. Organizados em quatro colunas, tocando tambores, à semelhança de marcha militar, fizeram grandes facécias, enquanto imitavam os animais patronos, subindo a mastros, largando grandes urros, enquanto lutavam e dançavam em ronda.
O festim selvagem ainda rondou em vários feridos, quando a mesnada guerreira lançou o pânico entre as montadas dos servidores do monarca que forma lançados de um ponte abaixo.
Destes bandos de guerreiros nórdicos, de tribos germânicas ou dos Berserkir do país de Gales, apesar dos protestos de defensores dos animais, ainda se mantêm as reminiscências nos famosos toucados dos guardas de sua Majestade.
Foi nestas práticas de iniciação e sobrevivência na vida selvagem que Baden Powell, o criador do escutismo, se inspirou, tendo como modelo o Livro da Selva do maçónico Ruydyard Kippling.
E é aqui que entram os sobrinhos do Pato Donald. Os lobitos, escuteiros mirins, inspiram-se nos rituais maçónicos que assim denominavam os jovens que acolhiam. Lobitos também eram as crias falsamente nascidas dos rituais dos solstícios, quando os homens grávidos, cobertos de peles de animais, simulavam partos na natureza com o mesmo sentido purificador das regras das ursas ou da ferrugem do Robigus, como já havíamos referido.
Quanto ao Huguinho, Zézinho e Luizinho, ainda se tramaram com aquela mania de se passarem por lobitos. A propaganda nazi viu neles um bom exemplo da utopia homo-erótica e desenhou-os em grande pompa, a citarem o Mein Kampf.
Deixe um comentário